sábado, 23 de janeiro de 2016

Por que não fico contente com um dia


– talvez, apenas porque eu não fiz dele completo o suficiente para conter o infinito? Um dia do  diário deve ser completo, como um livro; e todos os espaços que pulo, todos os braços que
faltam, todas as camadas não iluminadas porque eu não as toquei com meus dedos calorosos,  amor, ou[porque] não as afaguei, devem permanecer no escuro como o mistério da própria vida. Um dia é tão cheio. Será que relatá-lo impede voos supremos? Todo dia de relato conta contra a coisa maior, ou isso pode ser feito de forma tão grande e bela, a ponto de se tornar  completo,infinito. O florescer só é possível através do esquecimento, com o tempo, com
as raízes e a poeira das falsidades? Se eu escrever no diário por medo da loucura, então é  pela mesma razão que os artistas criavam, como Nietzsche disse. Já que o artista é sua visão de vida – do trágico e do terrível – ele iria a loucura e apenas a arte poderia salvá-lo.


Anais Nin
Devil Doll - Bourbon in Your Eyes

Nenhum comentário:

Postar um comentário