não tenham passado pela experiência do sagrado, a sua imaginação os ajudará a entender o que desejo dizer. A ética religiosa cristã clássica sempre foi muito clara ao indicar que a moralidade de uma ação se baseia na intenção. Em outras palavras, o que define a identidade da pessoa, sob o ponto de vista desta ética religiosa, não é o que ela objetivamente faz, mas antes suas disposições íntimas. Tanto assim que um ato mau pode ser apagado pelo arrependimento. Articula-se aqui um mundo a partir da interioridade. Com o advento do utilitarismo, entretanto, tudo se alterou. A pessoa passou a ser definida pela sua produção: a identidade é engolida pela função. E isto se tornou tão arraigado que, quando alguém nos pergunta o que somos, respondemos inevitavelmente dizendo o que fazemos. Com esta revolução instaurou-se a possibilidade de se gerenciar e administrar a personalidade, pois que aquilo que se faz e se produz, a fusão, é passível de medição, controle, racionalização. A pessoa praticamente desaparece, reduzindo-se a um ponto imaginário em que várias funções são amarradas.
Abbie Gale - Clown
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