quinta-feira, 20 de junho de 2013

Fala-nos da Liberdade







Às portas da cidade e em vossos lares, eu vos vi prosternar-vos e adorar vossa própria liberdade.
Como escravos que se humilham perante um tirano e glorificam-no embora ele os destrua.
Sim, na alameda do templo e à sombra da cidadela, tenho visto os mais livres entre vós carregar sua liberdade como um jugo e um grilhão.
E meu coração sangrou dentro de mim; pois só podereis libertar-vos quando até mesmo o desejo de procurar a liberdade se tornar um jugo para vós, e quando cessardes de falar da liberdade como de uma meta e de um fim.
Sereis, na verdade, livres, não quando vossos dias estiverem sem preocupação e vossas noites sem necessidades e sem aflição.
Mas, antes, quando essas coisas apertarem vossa vida e, entretanto, conseguirdes elevar-vos acima delas, desnudos e desatados.
E como vos elevareis acima de vossos dias e de vossas noites se não quebrardes as cadeias com que, na madrugada de vosso entendimento, prendestes vossa hora meridiana?
Na verdade, o que chamais liberdade é a mais forte destas cadeias, embora seus anéis cintilem ao sol e vos deslumbrem.
E que é que quereis rejeitar para serdes livres, senão fragmentos de vós próprios?
Se é uma lei injusta que pretendeis abolir, lembrai-vos de que esta lei foi escrita por vossa própria mão em vossa própria testa.
Não conseguireis extingui-la, queimando vossos códigos nem lavando as faces de vossos juízes, embora despejeis o mar por cima delas.
E se é um déspota que quereis destronar, verificai primeiro se seu trono erigido dentro de vós está destruído.
Pois, como pode um tirano dominar os livres e os altivos, se não houver tirania na sua própria liberdade e vergonha na sua própria altivez?
E se é uma preocupação que quereis rejeitar, essa preocupação foi escolhida por vós mais do que a vós imposta.
E se é um temor que precisais dissipar, o centro desse temor está em vosso coração e não na mão do temido.
Na verdade, todas as coisas movem-se dentro de vós em constante meio-aperto, as desejadas e as receadas, aquelas que vos repugnam e aquelas que vos atraem, aquelas de que fugis e aquelas que procurais.
Essas coisas movem-se dentro de vós como luzes e sombras em pares estreitamente unidos.
E quando a sombra desvanece e se dissipa, a luz que se demora torna-se a sombra de uma outra luz.
E desta forma, quando vossa liberdade perde seus entraves, torna-se um entrave para uma liberdade maior.



Texto: Gibran Khahil Gibran
Vídeo/Música: Vitor Ramil e Lenine Um dia você vai servir a alguém

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