quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Eterno Mestre


Vivemos tempos de incertezas e mudanças repentinas. Tudo o que poderia
ser duradouro - sejam relacionamentos afetivos, vínculos empregatícios,
produtos e até mesmo projetos de vida - parece desmanchar no ar. As
sociedades ocidentais aprenderam, com a lógica do consumo, a
desenvolver um insaciável apetite por novidades. Assim, consomem e
descartam objetos e pessoas como nunca antes na história.
Dessas observações nasceu o conceito de "modernidade líquida",
cunhado pelo sociólogo polonês Zygmunt Bauman, de 86 anos, para
definir a contemporaneidade.
(...)
Entre tantas novidades sobrepostas no decorrer do século passado e
início deste, uma é, segundo Bauman, dominante e irreversível. "A
humanidade multiplicou as conexões, as relações, as interdependências,
as comunicações, espalhadas por todo o mundo", destaca. Só que
quantidade não equivale a qualidade. Se intensificamos as ligações
entre as pessoas e as nações, isso não significa que essas pontes sejam
robustas, muito menos longevas.
Ao denunciar a fragilidade das relações humanas, o sociólogo nos faz
pensar sobre a exacerbação do "eu" em detrimento do sentido de
coletividade. "As sociedades foram individualizadas. Em vez de se pensar
em termos de a qual comunidade se pertence, tendemos a redefinir o
propósito de vida para o que está acontecendo com cada pessoa",
ele aponta.
De fato, a busca por uma identidade que se encaixe nos padrões sociais
passa a nortear as escolhas e os comportamentos. Por isso, tanta gente
vira refém da autoimagem e do consumismo. "Precisamos recriar nossa
própria identidade, muitas vezes, partindo do zero. Isso é tarefa para a
vida inteira porque as formas atraentes e tentadoras de viver mudam
inúmeras vezes", critica. A incessante reformulação do nosso "cartão de
visita" faz com que "ser", mais associado a nossa essência, seja menos
valorizado do que a ânsia de se manter em constante adaptação às
demandas que vêm de fora. Com isso, milhares de indivíduos se sentem
incompletos nos dias de hoje. Carregam um vazio que nada é capaz de
preencher.

Raphaela de C. Mello - Bons Fluidos
Morcheeba - Fear and Love

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