Nos acres planos do vale,

a camada superior do solo era profunda e fértil. Era preciso
apenas um inverno de bastante chuva para fazê-la irromper
em relva e flores. As flores da primavera, num ano de bastante
chuva, eram inacreditáveis. Todo o fundo do vale e também
os contrafortes ficavam cobertos por um tapete de tremoços
e papoulas. Uma vez uma mulher me disse que as flores coloridas
pareceriam ainda mais intensas se a elas fossem acrescentadas
algumas flores brancas, para proporcionar definição às cores.
Cada pétala do tremoço-de-flor-azul é contornada de branco,
de tal forma que um campo de tremoços é mais azul do que se
pode imaginar. E por toda parte havia salpicos das papoulas
da califórnia. Essas também são de uma cor intensa... não laranja,
não ouro, mas, se o ouro puro ficasse líquido e fosse transformado
em creme, esse creme dourado talvez fosse da cor daquelas
papoulas. Quando a estação chegava ao fim, crescia mostarda-amarela,
que atingia grande altura. Quando meu avô chegou ao vale, a mostarda
era tão alta que, quando um homem andava a cavalo, só aparecia sua
cabeça acima das flores amarelas. Nas terras altas, a relva era salpicada
de botões-de-ouro, heras e violetas amarelas de centro preto. À medida
em que a estação avançava, surgiam outras flores, vermelhas e amarelas,
as castillejas, flores dos espaços abertos, expostas ao sol.
Sob os carvalhos frondosos floresciam avencas, exalando um cheiro bom.
Nas margens mais úmidas dos cursos de água, havia moitas de
samambaias. Havia campainhas, pequenas lanternas de um branco
cremoso, de aparência quase pecaminosa, tão raras e mágicas
que uma criança, ao descobri-las, sentia-se eleita e especial
durante o dia inteiro.

trecho do livro A Leste do Éden. John Steinbeck

Eva Cassidy-Field of Dreams by Sting