segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Por vezes,

entretanto, os acordos não são operacionais, mas olfativos. É assim que os animais constroem o seu espaço e, espalhando os seus excrementos, definem as fronteiras do seu mundo. E é também pelo odor que o amor voa, e as fêmeas atraem os machos e a vida continua. Atrofiadas as nossas funções olfatórias, tivemos de lançar mão de alternativas funcionais: os quadros que penduramos nas paredes, os móveis, as maneiras de vestir e as maneiras de falar.
Estes são os nossos odores. Por meio deles nos damos a conhecer. É assim que as palavras, frequentemente, assumem sua importância, não porque ampliem o conhecimento, mas porque se constituem em senhas pelas quais os membros de um grupo se dão a reconhecer, da mesma forma como os intrusos e espiões se traem por não saber usá-las da forma própria ou por usar inadvertidamente as palavras(e autores) tabus.
E aqui surge o problema, porque, quando nos movemos no mundo das afinidades olfativos, a questão se resume em “ser do mesmo cheiro” ou “ser de cheiro oposto”. Surgem então os dogmatismos e as intolerâncias.

Rubem Alves
DeVotchKa - How It Ends

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