Olhamos para modelos anoréxicas, que estão quase morrendo, e não nos damos conta de quanto já achamos isso bonito. Eu mesma só pensei no assunto quando fiz esculturas para satirizar a magreza excessiva e, ironia do destino, fiquei absolutamente encantada por elas. Era para as peças esqueléticas refletirem uma aberração, mas quem se viu como a aberração fui eu, por estar acima do peso. No dia da exposição, me senti muito abandonada por mim mesma. As Giseles(nome das esculturas, numa referência à top model brasileira) surgiram num momento da minha vida em que eu estava frustrada profissionalmente e não me cuidava. O lado bom desse choque foi que decidi parar de fumar, comecei a me exercitar, perdi peso. Percebi a inevitável lei da ação e reação. Se você cuida de sua pele ela responde, se cuida dos cabelos ele fica brilhante. Cuidei tanto daquelas esculturas, por que não ser generosa comigo mesma? Lembrei de desenhar uma mulher largada na cama, vendo TV, cercada de hambúrgueres e dizendo que queria um homem que lutasse por ela. Sacanagem. Se existem heroínas, elas precisam ser nós mesmas. A beleza vem daí. Provavelmente, mesmo a mulher mais linda, quando olha no espelho e se sente bonita, é porque está feliz, realizada.
Ana Cordeiro, artista plástica - para Bons Fluídos
Maria Gadú - Estranho Natural
Ana Cordeiro, artista plástica - para Bons Fluídos
Maria Gadú - Estranho Natural
Nenhum comentário:
Postar um comentário