sexta-feira, 22 de maio de 2015

Passou perfume

na testa e no nascimento dos seios - a terra era perfumada com cheiro de
mil folhas e flores esmagadas: Lóri se perfumava e essa era uma das suas imitações do mundo,
ela que tanto procurava aprender à vida - com o perfume, de algum modo intensificava o que quer que ela era e por isso não podia usar perfumes que a contradiziam: perfurmar-se era de uma sabedoria instintiva, vinda de milênios de mulheres aparentemente passivas aprendendo, e, como toda arte, exigia que ela tivesse um mínimo de conhecimento de si própria: usava um perfume levemente sufocante, gostoso como húmus, como se a cabeça deitada esmagasse húmus, cujo nome não dizia a nenhuma de suas colegas professoras: porque ele era seu, era ela, já que para Lóri perfurmar-se era um ato secreto e quase religioso.


Clarice Lispector
The Savage Rose - Lonely Heart
Jeanloup Sieff - Mirror, 1960

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