terça-feira, 5 de maio de 2015

Não se enganava a si mesma:

era possível que aqueles momentos perfeitos passassem?
Deixando-a no meio de um caminho desconhecido? Mas ela poderia sempre reter nas mãos um pouco do que agora conhecia, e então seria mais fácil viver não vivendo, mal vivendo. Mesmo que nunca mais fosse sentir a grave e suave força de existir e amar, como agora, daí em diante ela já sabia pelo que esperar, esperar a vida inteira se necessário, e se necessário jamais ter de novo o que esperava. Moveu-se de súbito na cama porque foi insuportável imaginar por um instante que talvez nunca mais repetisse a sua existência na Terra. Mas, para a sua alegria inesperada, percebeu que o amaria sempre.


Clarice Lispector
Nick Cave - Do You Love Me

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