no máximo conseguimos traduzir uma em
palavras, e mesmo assim de forma fortuita e sem o merecido cuidado. Entre
todas as experiências mudas, permanecem ocultas aquelas que,
imperceptivelmente, dão às nossas vidas a sua forma, o seu colorido e a sua
melodia. Quando depois, tal qual arqueólogos da alma, nós nos voltamos para
esses tesouros, descobrimos quão desconcertantes eles são. O objeto da
observação se recusa a ficar imóvel, as palavras deslizam para fora da
vivência e o que resta no papel no final não passa de um monte de
contradições. Durante muito tempo acreditei que isso era um defeito, algo
que deve ser vencido. Hoje penso que é diferente, e que o reconhecimento de
tamanho desconcerto é a via régia para compreender essas experiências ao
mesmo tempo conhecidas e enigmáticas. Tudo isso parece estranho, eu sei,
até mesmo extravagante. Mas desde que passei a ver as coisas assim, tenho a
sensação de, pela primeira vez, estar atento e lúcido.
Flume & Chet Faker - Drop the Game
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