quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Bilhete brasileiro


De uma amiga que trabalha com crianças abandonadas e viu um projeto avançado ser recusado: "Sabe que, num levantamento verbal das crianças institucionalizadas, descobrimos que a grande maioria delas não é capaz de empregar atributos quando fala ou escreve? Imagine! Se a gente pensa que o atributo implica em julgamento, descobre o óbvio - o grande empobrecimento emocional dessas crianças. Que, sem uma história de vida delineada - muitas delas nem sabem se, um dia, tiveram pai e mãe -, não são capazes de julgamento, opção, desenvolvimento de preferências. A elas não é dado escolher. Uma flor é uma flor. Não tem nome, cor, não sabem dizer se é bonita, ou feia, se gostam ou não dela. Isso tudo faz parte de uma dimensão inexistente que a gente queria estimular". O projeto não passou adiante. E fiquei a pensar, em Berlim, se toda uma geração de brasileiros não foi erguida inteira dentro destas condições, igualzinha crianças institucionalizadas, sem poder julgar, optar, decidir, opinar.

Ignácio de Loyola Brandão
Jakwob - Fade (feat. Maiday)

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