segunda-feira, 4 de março de 2013

A berração



Ruy Sommer, proprietário do famoso Encouraçado Botekin, era muito estimado pelo pessoal da noite. Quando seu bom amigo Nazareth, o costureiro, faleceu em trágico acidente de automóvel, no início da década de setenta, o inconsolável Ruy resolveu tomar monumental porre. Alta madrugada, finalmente criou coragem e foi até o velório. Com seu metro e noventa de altura, cabelos loiros, comprido casado de pele, botas de cano alto, imensa e colorida manta enrolada no pescoço, entrou chorando na capela e abraçou-se no caixão, gritando seu desespero:
- Esta vida é uma merda! Que vá tudo para a puta que o pariu! Nazareth, meu querido, tu não podes estar morto! Uma porra dessas não pode estar acontecendo!
Ainda não completara a meia hora de lamúrias e lamentações, quando um dos presentes discretamente bateu-lhe ao ombro:
- Moço, eu acho que o senhor está chorando para o defunto errado. Quem está sendo velada aqui é uma moça. Não é homem, não. Quem sabe o senhor experimenta a capela ao lado?
Desnorteado, Sommer saiu à procura do seu velório. Ao encontrá-lo, repetiu toda a cena e jogou-se sobre o caixão, só não o derrubando porque Gilda Marinho correu em auxílio.



imagens: http://www.caminhosdosantiago.com.br/

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