Não tenho nenhum dragão. E, ainda que
tivesse, ele não moraria comigo nem com ninguém. Para os dragões, nada mais
inconcebível que dividir seu espaço – seja com outro dragão, seja com uma
pessoa banal feito eu. Ou invulgar, como imagino que os outros devam ser. Eles
são solitários, os dragões. Quase tão solitários quanto eu me encontrei,
sozinho neste apartamento, depois de sua partida. Digo quase porque, durante
aquele tempo em que ele esteve comigo, alimentei a ilusão de que meu isolamento
para sempre tinha acabado. E digo ilusão porque, outro dia, numa dessas manhãs
áridas da ausência dele, felizmente cada vez menos freqüentes (a aridez, não a
ausência), pensei assim: Os homens precisam da ilusão do amor da mesma forma
que precisam da ilusão de Deus. Da ilusão do amor para não afundarem no poço
horrível da solidão absoluta; da ilusão de Deus, para não se perderem no caos
da desordem sem nexo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário