Aconteceu na avenida copacabana,
esquina de santa clara. Uma jovem senhora
chamou o guarda e apontou o homem,
encostado a um poste:
— Prenda este homem,
que ele está se portando inconvenientemente.
Era um homem magro, pálido,
vestido em casimira velhinha.
Não tinha cara de gente má.
Ao contrário, seus olhos eram doces e mendigos.
O policial segurou o homem pela lapela.
O homem não se mexeu.
Apenas levantou os olhos e perguntou:
- Por quê?
A senhora estava uma fúria e dizia num fôlego só:
— Há uma hora este cidadão me segue.
Começou no lotação. desceu quando eu desci.
Entrei numa loja e ele entrou também.
Andei um quarteirão e ele andou também.
Entrei no mercadinho e ele entrou também...
— E lhe disse alguma coisa?
— Não. Só olhava.
O guarda soltou a lapela do homem.
O homem agradeceu.
O guarda dirigiu-se ainda à mulher:
— Mas ele só olhava?
— Sim. mas olhava de maneira obscena.
O guarda perguntou, então, ao homem:
— Você olhava de maneira obscena?
— Sim. não sei mentir.
Mas qualquer um no meu lugar faria o mesmo.
0 senhor já viu ela andar?
O guarda viu depois, quando a mulher
desistiu da prisão do seu espectador e foi andando.
Não se deve explicar muito, mas é preciso que se diga:
era uma moça brasileira.
Uma moça de formato brasileiro,
com movimentos brasileiríssimos.
Dessas que deviam ter, como certos automóveis,
uma tabuleta às costas, onde se lesse: "amaciando".
Zimbo Trio - Meditação Tom Jobim
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